Duarte, exibe com orgulho o troféu conquistado na temporada passada.
Duarte Miranda, é o treinador de guarda-redes dos seniores do FC Infesta, humilde, educado, sempre com um sorriso na face. Depois de um susto que teve, colocou um ponto final na carreira, mas o treinador José Manuel Ribeiro, deu-lhe uma oportunidade que Duarte nunca vai esquecer. A vida de um homem que é o actual guardião de um clube que não conhecia, mas que hoje, é o seu clube do coração.
Como é que o Infesta surgiu na tua vida? O que pensas deste clube?
Sou um daqueles verdadeiros adeptos do Infesta. Quando entrei no futebol, comecei num pequeno clube de Custoias, depois tive a sorte de dar o salto para o Boavista, onde fiz toda a minha formação e não conhecia o Infesta. Tinha a ideia que quando saísse do Boavista, ia para um clube melhor ou igual e quando vim parar ao Infesta, pensei que como ia jogar nos nacionais, era uma rampa de lançamento para outros voos e não um clube onde fosse ficar para sempre. Hoje digo-te que o que melhor me aconteceu em termos de futebol, nem foi a formação no Boavista, mas sim o ter vindo para o Infesta, porque se calhar hoje não conhecia as pessoas que conheço, como o professor José Ribeiro, o Nélson, os jogadores, o presidente Manuel Ramos, toda esta gente. Por isso digo-te que estou muito feliz por ter vindo para cá e posso mesmo dizer que o Infesta é o meu clube, o numero 1.
Normalmente na formação, ninguém gosta de ir à baliza, como é que surgiu a hipótese de seres guarda-redes?
Por acaso eu até nem era para ir para a baliza (risos). A primeira vez que tive contacto com futebol de onze já vai há muitos anos, penso que tinha 11 anos nessa altura e pedi ao meu pai para ir treinar ao Candal. No primeiro dia, fiz um grande treino e o treinador da altura pediu-me logo fotografias, bilhete de identidade e mais umas coisas para ficar no Candal. O engraçado nesta história é que no dia seguinte recebi um teste de matemática onde tirei negativa. O meu pai proibiu-me logo de ir ao treino, por isso resume-se essa primeira experiencia a um dia. Depois passados uns dois anos, jogava na Académica de Custoias (futsal) e fui às captações do FC Porto com uns amigos, sem ele saber. Não fiquei no Porto, mas com esses treinos, ganhei a projecção necessária para ir para o Boavista onde acabei por ficar. O meu pai não se opôs e fiquei por lá cinco anos. Como o meu pai tinha sido guarda-redes uns anos antes, eu também decidi ficar pela baliza.
Tens alguma referência que te inspire na baliza?
Tenho, o Vítor Baia… Desde que me lembro, desde miúdo que um guarda-redes que queria imitar era o Baia.
Depois do Boavista, como foi o teu percurso?
Eu estava no primeiro ano de júnior e o Boavista queria ficar comigo para o segundo ano só que eu como era o único guarda-redes de primeiro ano nessa equipa do Boavista, o falecido Professor Queiró não apostava muito em mim e eu, como nos outros anos tinha jogado com frequência, decidi sair e consegui colocação na Académica de Coimbra, só que tive lá uma semana e como queria estar perto dos pais, não aguentei e foi ai que surgiu o Infesta onde fiz o ultimo ano de júnior.
Como surgiu a hipótese de ficares no plantel principal do Infesta?
A equipa de juniores desse ano era excelente. Fui o único jogador totalista nessa temporada. Tinha-mos jogadores como o Ricardo Rocha, o Ricardo Gomes, etc… e o Augusto Mata aproveitou alguns de nós para a equipa principal e eu tive essa sorte de ser um deles.
Depois de dois anos no Infesta, sais-te para o Moura… Como é que isso aconteceu?
Durante esses dois anos, apesar de não ter jogado muito, foram dois anos espectaculares. Estava tapado pelo Bruno que para mim, foi o melhor guarda-redes do Infesta. É um grande amigo e gosto muito dele pois aprendi muito com ele tanto a nível de futebol como pessoal. E como estive praticamente dois anos sem jogar, decidi sair. Tinha na altura um empresário que também tenho uma história engraçada para contar. Depois de sair do Infesta, ele disse-me para fazer as malas pois ia para Setúbal. Foi de um dia para o outro, lembro-me de estar a fazer as malas e no dia a seguir estava a ir para Setúbal. Estivemos o dia todo por lá, para fazer o acordo e no dia a seguir, saiu a “bomba” de que o Vitória de Setúbal ficou com tudo penhorado, foram as contas, o estádio, etc… e eu logo ai, assim como outros jogadores que estavam por lá, fiquei sem clube. O meu empresário tentou procurar outro clube e para não ficar muito longe dele, encontrou o Moura, um clube onde tive uma boa experiencia, com pessoas excelentes, só que não dava para mim, estava longe de casa, as mentalidades eram diferentes, não havia compatibilidade e decidi vir embora.
Regressaste ao norte, Padroense, Vilanovense e depois, Infesta outra vez…
É verdade e no Vilanovense passei dos melhores anos desde que estou no futebol. Muita gente boa, tive um dos melhores treinadores, o Edmundo Duarte, que é uma pessoa extraordinária, uma pessoa excelente pois como ser humano, é do melhor que há e como treinador também tem muita qualidade. Depois é o regresso ao Infesta onde volto a reencontrar o Bruno, que também tinha regressado nesse ano. Foram mais dois anos a jogar pouco e que coincidiu com o inicio da fase má que culminou com a descida à 3ª Divisão Nacional. Eu como não sou uma pessoa de confrontos, de criar mau ambiente, etc… e já que não estava de acordo com muitas das coisas que se estavam a passar no clube, decidi sair. E não me arrependo pois o Infesta nesse ano, voltou a cair, desta feita para o distrital. Já se estava a prever… Depois fui para o Nogueirense. Nessa pré-epoca tive mais um convite que foi o do Coimbrões, mas como o Nogueirense insistiu mais, acabei por ir para lá. No início tive alguns problemas, não era convocado, não sei bem porquê, até que mudou o treinador e comecei a jogar. Infelizmente nesse ano, tive o maior susto da minha vida, num jogo frente ao Lixa em que nós por curiosidade vencemos, no final do encontro senti-me mal e tive de ser transportado para o hospital. Estive internado três dias onde fiz vários exames para tentar perceber o que se tinha passado. Como não tive o apoio do Nogueirense nessa altura complicada da minha vida, abandonei o clube e estive meio ano a recuperar. Foi quando decidi por um ponto final na carreira.
Como surgiu o convite do professor José Manuel Ribeiro para fazeres parte da equipa técnica?
Foi uma das pessoas que me ligou para tentar perceber o que se tinha passado comigo. Acabou por naturalmente fazer o convite que para mim, foi a melhor coisa que me aconteceu. Quero desde já agradecer publicamente ao professor José Ribeiro por tudo o que tem feito por mim, porque eu até podia estar aqui a dizer que ele é bom treinador mas isso está na cara que ele é bom, agora eu não tenho palavras para descrever aquilo que o professor fez por mim e que continua a fazer, por isso o maior agradecimento que eu tenho para fazer, é dar-lhe o apoio todos os dias e pode ter a certeza que nunca o irei abandonar e vai ter o meu apoio incondicional sempre…
Aquele abraço no final do encontro da temporada passada no Nogueirense, diz muito desse sentimento de amizade que sentem entre vocês?
Aquele abraço não foi por causa do jogo, foi por muita coisa que já se passou. Depois daquele susto que tive no Nogueirense, eu tive a sorte de ter o mister, que foi uma pessoa com quem eu sempre mantive contacto, que se lembrou de mim e me deu uma oportunidade. Ajudou-me imenso. Desde o meu ano de júnior em que ele era preparador físico e que como curiosidade nós até discutíamos muito (risos), até à grande amizade que é hoje, eu nem sei que palavra hei-de descrever para lhe agradecer, por isso é que a melhor maneira de lhe agradecer é estar com ele, ajuda-lo em tudo o que for preciso e “dar o corpo às balas” por ele.
De todos estes anos de carreira, qual foi a época que mais te marcou?
Foi sem dúvida a do ano passado. Estava com sede de ganhar alguma coisa, nem que fosse um campeonato distrital. Nunca tinha ganho um titulo, nem quando estive no Boavista, era sempre o “quase…” (risos) … e o ano passado, ganhamos o campeonato da maneira que ganhamos, apesar das pessoas não terem dado muito valor. Mas essas pessoas têm de perceber que o campeonato que fizemos a temporada passada foi excelente, pelas condições que nós tínhamos, pelo estado anímico de alguns jogadores, foi um campeonato excelente até mesmo pela diferença pontual que conseguimos alcançar. Espero é que no final desta temporada, possa dizer que foi este o que mais marcou… (risos).
Tens algum encontro que te vá ficar positivamente para sempre marcado na memória?
Sim, foi o jogo em casa com o Felgueiras da temporada passada, porque depois de ter tido aquele susto, a minha vontade era não mais jogar futebol. O mister no início da época convenceu-me a inscrever-me porque não sabia o que poderia acontecer e eu aceitei porque nunca pensei que poderia acontecer o que aconteceu com o Bruno e depois este ano com o Vítor Pádua, que saiu por motivos profissionais e então esse jogo com o Felgueiras, foi o primeiro jogo depois do susto. Eu não estava nervoso, a concentração é que não era a mesma pois não me saia da cabeça o que se tinha passado antes. Nesse jogo tenho de salvaguardar os meus colegas pois senti que existiu uma união entre todos para comigo. No jogo com o Nogueirense já estava mais calmo, porque já tinha passado o primeiro jogo depois daquilo que me tinha acontecido.
Desde a temporada passada que estás no Infesta com uma dupla função, para além de seres guarda-redes, és treinador de guarda-redes. Como tens gerido esta dupla função?
Não é fácil. Eu sou uma pessoa ambiciosa como o professor José Ribeiro e para o poder acompanhar, tem de se ser ambicioso. Na temporada passada, eu disse ao Bruno e ao Miguel que iria ser o meu ano de estágio e que iria aprender mais com eles do que eles comigo. Tentei implementar algumas técnicas de treino que fui aprendendo em formações que frequentei e este ano já apliquei mais aquilo que é a minha ideia do que quero num guarda-redes. Só que não é fácil, porque eu tendo de treinar, eu não consigo aplicar da mesma maneira se estivesse do lado de fora do treino. Se a gente perde alguma coisa? Não perde, porque no treino, nós continuamos a aprender e percebemos melhor aquilo que acontece ao contrário do que se estivermos apenas a dar treino. Não é como eu queria, mas é bom para a gente aprender.
Apesar de alguma renitência em jogar, devido ao que se passou contigo, nunca houve aquele “bichinho” de quereres regressar às balizas?
Vou-te ser sincero, eu desde início que tento ser o mais serio possível comigo e quando eu decidi que não queria jogar mais, é porque não queria mesmo. E depois eu também não estava a contar que fosse acontecer a mesma situação esta temporada como a do ano passado. O que eu queria mesmo era que o Miguel joga-se os jogos todos até ao final da temporada porque ele é que é o guarda-redes do Infesta, pela qualidade que tem, pelo espirito de liderança que transmite… Mas pronto, aconteceu que tive de jogar novamente este ano outra vez e fui para a baliza novamente com aquele dever de agradecer ao mister. Não fui para a baliza com aquele intuito de provar que tenho qualidade, bem pelo contrário, foi para o ajudar, dar o meu melhor, e tive a sorte de o conseguir, juntamente com a equipa porque tudo o que eu fiz, acho que era aquilo que tinha de fazer nos jogos, defender, atirar-me para o chão, o resto foi também a equipa, que me ajudou, todos muito unidos, batalhadores, concentrados e é a eles que também tenho de agradecer.
Esta temporada já estás a jogar mais, que aquilo que estava previsto. A equipa venceu contigo, oito dos nove encontros em que actuaste. Nunca pensas-te em reconsiderar a tua carreira?
Muita gente fala-me nisso, mas eu neste momento não posso dar uma resposta ainda. Quero para já fazer os jogos até ao final da época e ai, eu sei o que irei dizer. Mas até lá, não vou dar uma resposta… Mas é engraçado, porque nos quatro anos anteriores que passei por cá, e até já comentei com o mister sobre isso, eu era a “estrelinha” do Bruno pois ele nunca se lesionava. Nos dois primeiros anos, só teve uma lesão onde eu tive de actuar em Paredes num jogo difícil em que se perdesse-mos, poderíamos ter descido de divisão. Depois, no ano seguinte onde eu saio para o Moura, o Bruno lesiona-se com gravidade. Quando regressei, o Bruno também regressou e foram mais dois anos em que ele não teve qualquer lesão, até à temporada 2009/10 que foi quando eu fui para o Nogueirense e ele volta a ter uma recaída que depois se prolongou para a temporada seguinte o que fez com que termina-se a carreira.
Falando agora no momento actual da equipa e apesar de ainda ninguém ter assumido seriamente a candidatura, achas que podemos regressar à 2ª Divisão B?
Se dissesse que não, estava a mentir. Pela equipa que nós temos, pela qualidade que a equipa técnica tem, mais pela cabeça do mister e também do Nelson, pela sua experiencia, temos condições. Mas isso não chega, nós temos de lutar porque por exemplo o jogo deste fim-de-semana com o Cesarense, foi uma prova disso. Nós lutamos, nós demos tudo, fizemos tudo para vencer, mas as coisas não correram bem. Nós não tivemos, foi aquela “estrelinha” que tivemos por exemplo com o Sousense. Acho é que as pessoas têm de perceber que do outro lado está um adversário, existem factores externos como por exemplo a sorte que não apareceu neste encontro, ao contrário dos dois anteriores em que vencemos. Para já, temos tudo para subir. Temos um clube que é estável, um presidente que é muito nosso amigo e que nos dá tudo, mas também temos de ter noção que há outra equipa do outro lado do campo que como nós, também quer vencer.
Das equipas desta série, o Cesarense é aquela que se calhar tem melhores argumento para subir?
O Cesarense pela equipa e pelos valores individuais, também gosto do Vila Real que para mim, é a que pratica o melhor futebol e o Sousense. Mas isto está muito equilibrado. Mesmo o Rebordosa, que é uma equipa que ainda não vencemos esta temporada, é difícil. Por isso nós temos é de estar concentrados, como estivemos até agora e eu quero dar os parabéns aos atletas por isso, porque para mim é um orgulho vê-los a correr dentro do campo, ver um Rui a ganhar bolas em cima, o Vilas a jogar com a qualidade que tem, o Carlos, Jorginho, Vitinha, o capitão e a mim é um orgulho vê-los a lutar pelo Infesta e pelas pessoas que estão ali a torcer por nós. Nós estamos a fazer tudo para ganhar e conseguirmos isso, agora não podemos é ficar obcecados com isso porque pode ser prejudicial.
E dos atletas que já defrontas-te, qual foi aquele que para ti, te deu mais trabalho?
Sem dúvida que foram o Paulinho, o Pedro Nuno e os restantes, porque no treino são aqueles que mais trabalho me dão… (risos). Mas é mesmo porque eu com eles, vou mais vezes ao chão do que nos próprios jogos e aprendo mais assim…
No próximo domingo, recebemos o Grijó. O que esperas desse encontro?
À semelhança dos anteriores encontros, espero um jogo complicado, difícil mesmo. Não há jogos fáceis hoje em dia, mas nós sabemos o que temos de fazer até porque o mister já nos indicou o caminho nesse sentido. Não tenho duvidas nenhumas que se trabalhar-mos da mesma forma que trabalhamos com o Cesarense, podemos vencer.
Uma vitória frente ao Grijó e esperando sempre por um deslize do Vila Real, as coisas podem acabar por ficar mais simples…
Eu sou a favor de olhar sempre para cima. Já diz o mister e bem, que devemos olhar sempre para cima porque se nós olharmos para baixo, demonstramos algum medo e nós não temos de ter medo. Temos de olhar sempre para cima e depender-mos apenas de nós próprios.
Achas que depois desta derrota com o Cesarense, o primeiro lugar que dá o título da série ficou mais complicado?
Sim, mas não há impossíveis no futebol…
E esse pode ser um objectivo?
E porque não? Eu não vejo porque não… Se nós já vencemos no Cesarense por 4-0, porque é que não podemos ganhar lá outra vez? E o Cesarense ainda vai perder pontos nesta fase…
Queres deixar uma mensagem para os adeptos?
Venha apoiar-nos mais, façam mais barulho, que sejam o verdadeiro 12º jogador porque nós dentro do campo, onde dá-mos tudo por eles, não sentimos esse apoio. Às vezes pensamos que estamos no cinema! (risos)… Queria também aproveitar para deixar uma palavra ao Miguel porque é uma pessoa que gosto muito, tenho aprendido muito com ele e deixar-lhe uma palavra de apoio nesta fase complicada e dizer-lhe que para o ano, a camisola numero 1 está à espera dele…
Joaquim Filipe Dias