Jorginho substituiu Formoso esta temporada.
O treinador do Infesta, concedeu uma entrevista ao site do clube numa fase em que o campeonato vai parar durante 15 dias. Jorginho está para já satisfeito com o trabalho desenvolvido e tem a certeza que vai conseguir a manutenção nesta temporada.
Filipe Dias (FD): Jorginho, antes de falarmos da tua ligação com o Infesta, fala-nos um pouco de ti… do teu percurso como jogador…
Jorginho (J): Fiz a minha formação no Covelo, um clube de bairro em Paranhos, depois passei para o Boavista onde estive até aos iniciados, de seguida fui para o Salgueiros onde cheguei aos seniores e fui profissional durante quatro anos. O serviço militar foi um grande revés na minha carreira, que com 19 anos obrigou-me a parar. Quando regressei fui para o Maia, Oliveirense, Ovarense, todos clubes de 2ª Liga e regressei ao Salgueiros numa altura em que acabou o futebol sénior. Decidi dar outro rumo à minha vida e passei a trabalhar noutro ramo, colocando o futebol em horário pós-laboral. Então passei a jogar no Vilanovense, Amarante, Pedrouços e Custóias até ter chegado ao Infesta. Na minha carreira, tive o privilégio de jogar em todas as divisões, 1ª e 2ª Liga, 2ª Divisão B, 3ª Divisão e nos campeonatos distritais.
FD: A ideia que mais transparece das tuas actuações é que eras um jogador de raça…
J: Sim, desde pequeno sempre tive uma atitude muito grande no jogo, sempre fui um jogador de “ranho” como se costumava dizer antigamente e pautei a minha carreira sempre com muita disponibilidade para o jogo e sempre muito competitivo.
FD: Quais eram as tuas referências?
J: Não tive grandes ídolos, a minha posição também não ajudava pois normalmente esses ídolos são os ponta de lança como o Van Basten, e eu como lateral direito, poucos eram os jogadores que se destacavam.
FD: Chegaste ao clube no defeso da época 2011/12, numa altura em que o Infesta se tinha sagrado campeão distrital e se preparava para atacar a 3ª divisão. O acordo com o Infesta foi feito com o Sr. Manuel Ramos – que ideia guardas dele?
J: O pouco tempo que privei com ele, guardo a recordação de ser uma pessoa muito tranquila, honesta e que as pessoas respeitavam muito. Só o olhar que ele transmitia, dava-nos uma tranquilidade, tanto para o grupo como para a vida pessoal. Era uma pessoa reconhecida e por norma, essas pessoas gostam de “andar em bicos de pés” e ele não, nunca quis aparecer, era muito reservado e acima de tudo, adorava o Infesta.
FD: E do Infesta? Que te dizia o Clube?
J: Sempre fui ouvindo falar que o Infesta era um clube muito particular, muito familiar. Os jogadores estavam aqui muitos anos e faziam grande parte da carreira neste clube, o que era um bom sinal. Estou a lembrar-me dos exemplos mais recentes do Vitinha ou do Pedro Nuno. É uma maneira de estar diferente no futebol, não é aquele futebol puro como todos nós conhecemos, mas é um futebol mais familiar.
FD: Essa primeira época acabou por ser para esquecer em termos pessoais…
J: Sim, nunca me tinha lesionado gravemente na minha carreira e quando vim para cá, logo na segunda semana de treinos fiz uma rotura de ligamentos aos 34 anos. Era uma lesão muito grave que obrigava a uma paragem de seis meses e houve da minha parte e do posto clinico a duvida se ia jogar muitos mais anos, mas eu achava que ainda tinha condições físicas e psicológicas para continuar e decidi ser operado. Apesar dos medos e adaptação após debelar a lesão, penso que recuperei muito bem.
FD: De todo o modo subimos de divisão e tu ainda deste um contributo importante para o feito, na fase derradeira da prova…
J: Sim, joguei a fase final desse campeonato, joguei penso que nove a dez jogos e aí também tenho de agradecer ao Prof. Zé Manuel pois sempre acreditou em mim e eu só tinha de levar tudo isto a sério como levo a minha vida.
FD: Já na segunda divisão nacional foste praticamente sempre titular a temporada toda, mas as coisas não correram nada bem…
J: Sim, foi diferente. Acho que a equipa tinha qualidade mas passou-se um bocado o que se está a passar agora, ou seja, as coisas não correndo bem de inicio, a equipa começa a ficar afetada por estar nos últimos lugares e acaba por condicionar o resto da temporada. Estamos sempre a pensar que as coisas vão melhorar mais semana menos semana, mas enquanto não acontecer, quando dermos conta, temos um foço de pontos grande. Ganhar é um habito, mas perder também o é e foi um pouco isso o que se passou nesse ano.
FD: Então, na época passada, aparece o Jorginho como jogador e simultaneamente como… treinador – Como é que foi?
J: Os meus colegas sempre me disseram que eu era um bom líder, que era um bom treinador. No campo falo muito, dou muitas instruções, principalmente nesta fase final da carreira e propus à direcção para assumir uma equipa da formação do Infesta. Peguei na única equipa disponível na altura (infantis) e sem conhecer a realidade da formação, conseguimos subir de divisão e vencer a Taça do Século. Fizemos um grande trabalho e parte dai um pouco do reconhecimento que a direcção teve agora, com o trabalho que eu e aqueles miúdos fizemos na temporada passada. Estou muito ligado a eles, são miúdos fantásticos, miúdos com uma atitude e todos os que nos acompanham, gostam de ver aquela equipa a jogar, têm dinâmica, são raçudos, um pouco à minha imagem e conseguimos criar ali uma grande família.
FD: Porque decidiste terminar a carreira de jogador na época passada?
J: Decidi porque a minha motivação para treinar, estava aos poucos a desaparecer e eu não estava a ser um exemplo para os outros. Queria jogar porque o jogo desperta em nós outras obrigações, outros sentidos, mas a nível de treino não estava a ser um exemplo.
FD: Até que a meados do passado mês surgiu o convite para treinares também os seniores. Estavas a contar com isso? Como é que recebeste o convite?
J: Quando decidi terminar a carreira de jogador na temporada passada, o Formoso convidou-me para ser adjunto dele e tenho de lhe agradecer o facto de me ter convidado pois se calhar viu ali em mim, qualidades para o ajudar a nível da equipa mas infelizmente não cheguei a acordo com a direcção e acabei por ficar só com os miúdos. Sempre estive atento à equipa sénior, vinha ver os jogos muitas vezes e sinceramente, eu não estava a contar com o convite.
FD: E como é que encontraste a equipa?
J: Encontrei uma equipa psicologicamente afectada porque é uma equipa que demonstra qualidade mas não a aplica em campo com resultados. Vi uma equipa que dá mais do que a classificação transparece e a classificação, dá uma imagem algo frágil do nosso real valor.
FD: Mas nota-se um Infesta mais aguerrido, mais acutilante…
J: Sim, tenho tentado incutir as minhas ideias, os meus princípios, um pouco do que aprendi no futebol. Penso que ganhamos um pouco de intensidade e de competitividade e também a parte psicológica que é muito importante, temos trabalhado bastante. Quando se muda de treinadores, há sempre um “clique”, a quem quer que seja e isso pode ter sido bastante importante.
FD: E objectivos para o Infesta nesta temporada?
J: Tenho quase a certeza que não vamos descer de divisão, a equipa está a dar-me indicadores fortíssimos que vai melhorar. Vamos continuar a trabalhar, a assimilar os meus princípios que quero para o jogo e isso não é em dois dias que se cria e potência, mas penso que temos todas as condições para a equipa se manter nesta divisão.
FD: A tua carreira de treinador está a começar, já definiste objectivos futuros?
J: Não penso muito nisso, as coisas tem surgido naturalmente e não faço grandes planos. Se eu os fizesse, se calhar não corria o risco muito grande de pegar nos infantis o ano passado porque eu não os conhecia. Passo a passo, o que tiver que acontecer, há-de acontecer.
FD: Para terminar, uma mensagem de Natal para os infestistas…
J: Queria essencialmente dizer aos infestistas que andam arredados de ver o Infesta que apareçam pois às vezes é penoso ver o campo tão vazio. Eu sei que a mudança de campo não ajudou, a faixa etária da maior parte dos sócios, são de alguma idade e isso não ajuda a deslocar-se à Arroteia mas apoiem os nossos atletas. O Infesta vai ter de viver como a maior parte dos clubes deste pais, ou seja, da formação e é necessário que tenham paciência com eles.