José Teixeira é o actual director da equipa sénior de futebol.

José Teixeira, é o actual director da equipa sénior de futebol. Mamedense de gema, começou a trabalhar para o Infesta que é o seu clube de coração, há cerca de 27 anos. Devido a toda esta mudança que irá ser operada no clube no final da presente época, José Teixeira está preocupado com o que possa acontecer ao Infesta com a saída do presidente Manuel Ramos. No entanto, concorda com a decisão do actual líder do clube e tem a certeza que o Infesta vai conseguir a manutenção na presente temporada.

Quem é o Sr. José Teixeira?

Muitos me conhecem por Teixeira JN por ter trabalhado no Jornal de Noticias. Tenho cerca de 26/27 anos de clube, se a memória não me atraiçoa. Tive uma interrupção, devido à minha vida profissional, de cerca de 9/10 anos, pois os horários não eram compatíveis com os treinos. Embora quisessem que eu viesse na mesma, pelo menos para o banco aos domingos, eu não aceitei, pois não achava correcto os meus companheiros estarem durante a semana presentes, ao frio e à chuva, e eu vir só aos domingos. O Sr. Valdemar (antigo treinador dos juniores), andava-me sempre a pedir para regressar. Entretanto saí do jornal e a minha vida disponibilizou-se novamente para ajudar o clube naquilo que me é possível e já cá estou, salvo erro, há 6 anos.

É um infestista de gema?

Sim, é o clube da minha terra. Para mim, o Infesta está acima de qualquer clube, embora tenha afecto por outro que está na 1ª Liga, mas por um desse escalão todos nós temos…

Falando um pouco sobre a equipa sénior, onde o Sr. Teixeira é o director da equipa, como está a ver esta fase do Infesta na 2ª Divisão?

Não está a ser aquilo que nós prevíamos. Obviamente que, quando se montou a equipa, era para fazer uma época tranquila. Sem dúvida nenhuma que, devido aos cortes que se têm feito ao longo dos anos, não se consegue ir buscar outros jogadores com outro tipo de valor e o futebol na 2ª Divisão é muito diferente do da 3ª e, por incrível que pareça, é só uma divisão de diferença. Na 2ª os clubes apetrecham-se muito bem. Se fizermos uma análise a todas as equipas, há uma maturidade maior, e contra aquelas que são mais “agressivas”, no bom sentido da palavra, nós temos alguma dificuldade, porque gostamos de ter mais a bola no pé e as coisas nem sempre dão. À parte disso, temos tido uma fase complicada em termos de lesões. Pelo menos há dois ou três jogos que, infelizmente, não conseguimos ter 18 atletas para convocar. Este fim-de-semana a coisa desanuviou um pouco e esperemos que nas próximas duas ou três semanas fique quase tudo a 100%. Todos são importantes, mas há sempre uns mais importantes que outros, como tudo na vida, e são jogadores fulcrais na manobra da equipa que têm ficado de fora. O nosso técnico vai aguentando, pois também é desolador olhar para o banco e não ver alternativas.

Acredita que a equipa ainda vai conseguir a manutenção.

Sim, eu acredito que as coisas vão melhorar, não tenho dúvidas nenhumas. Eu já tenho vindo a dizer ao longo desta temporada que, a trabalhar como temos vindo a trabalhar, isto tem de dar frutos, porque eu não me acredito que pelo menos as equipas da nossa igualha, trabalhem melhor, ou mesmo tão bem como nós. Os treinos são bem-feitos, bem idealizados, os atletas aficam-se naquilo que lhes é pedido, os jogos ao fim de semana são preparados ao pormenor, mas as coisas, por vários factores, não nos têm corrido bem.

Nestas duas próximas jornadas vamos ter dois jogos fora (Chaves e Tirsense). Não vêm em boa altura, pois não?

Até pode ser benéfico. Os anos têm-me ensinado que os chamados adversários mais fortes acabam por permitir que nós também façamos jogos melhores. É por isso que acontecem os resultados surpresa. Nós sabemos jogar a bola e, se nos deixarem, também pomos em prática o nosso bom futebol. Nestes anos em que ando no futebol, normalmente não me queixo das derrotas com as arbitragens, mas, até nisso, nesta temporada, temos tido algumas más surpresas e há um jogo que vai ficar bem marcado que foi o Infesta – Gondomar (resultado: 1-4), em que a arbitragem foi má demais para ser verdade. Mas temos que saber lidar com isso, ir buscar as forças a sítios que, às vezes, pensamos que não existem.

Nestas 15 equipas que o Infesta já defrontou esta temporada, com certeza que o Sr. Teixeira falou com os outros directores dessas mesmas equipas. Que diferenças notou a nível estrutural?

Em termos de estrutura, quer queiramos, quer não, perdemos o que de bom também tínhamos. O Campo Moreira Marques era um palco mítico, mesmo para os nossos associados e, embora tivéssemos quem nos ajudasse a procurar uma solução alternativa para se poder continuar a jogar – e aí teremos que agradecer mais uma vez ao Sr. Ramos por ter cedido o espaço na Quinta da Arroteia – o certo é que 100, 150 pessoas por jogo não nos ajuda. Ainda no fim-de-semana em que fomos ao Ribeirão e eu já conhecia aquilo, sinceramente, fiquei abismado com toda aquela reestruturação que o estádio teve. Então o interior, desde os balneários a salas de apoio adjacentes, tem de tudo para se poder trabalhar com muita qualidade. Mas há mais – Fafe, Famalicão, Amarante, Padroense, entre muitos outros…

Na próxima sexta-feira, o Infesta irá ter uma Assembleia muito importante para definição do futuro do clube, pois o presidente Manuel Ramos, vai deixar o cargo. Passando agora para um campo mais a nível administrativo no Infesta, o Sr. Teixeira, para além de ser director da equipa sénior, está também ligado um pouco ao dia a dia do clube. Como está o Infesta a nível financeiro?

Eu não queria estar a adiantar muitos pormenores, porque penso que não sou a pessoa indicada para falar no assunto, por isso, vou ser o mais superficial possível. O Infesta em termos financeiros tem que ser visto da seguinte forma: sem a presença do Sr. Ramos, o Infesta tinha que ter outra realidade. A realidade do clube, mesmo tendo reduzido ano após ano os seus orçamentos, está muito além daquilo que devia estar, porque os patrocínios são muito poucos e a actual conjuntura do país assim o obriga, isto é, não há dinheiro para se investir no futebol. As receitas são mínimas, ninguém vai ver futebol em casa, muito menos fora de portas. Depois posso a dar o exemplo que, para mim, é o mais flagrante de todos: os encargos inerentes à organização de um jogo na 2ª Divisão Nacional, a serem pagos pelo clube visitado à Federação Portuguesa de Futebol, são de 860 euros. A acrescer a esse valor estão mais cerca de 400 euros pelo policiamento, ou seja, são mais de 1200 euros só para a realização de um jogo de futebol. As receitas provenientes da bilheteira são de 170 euros, 200 euros no máximo. Só nestes casos, vemos que o Infesta não está na realidade possível. Só mesmo um mecenas para ajudar e, tirando o Sr. Ramos, não estou a ver ninguém que queira investir assim tanto dinheiro no Infesta. Mas isto é um problema que a Federação Portuguesa de Futebol tem de resolver, pois para o ano estou a ver muitos clubes a desistir por não poderem pagar estas exorbitâncias.

Estas despesas são no âmbito dos campeonatos nacionais, mas no distrital as coisas já não são bem assim…

No distrital, não tenho bem a certeza, mas penso que a organização de um jogo fica por pouco mais de 300 euros, fora o policiamento. É uma diferença de quinhentos e tal euros.

Como é que o Sr. Teixeira, vê o futuro do Infesta na próxima temporada?

Não é nada risonho. O Sr. Ramos já deu monetária, pessoal e fisicamente, quase tudo o que poderia dar a uma colectividade como o Infesta. O Sr. Ramos não vai continuar, como já tinha dito, e eu acredito que está na hora de ele sair, porque nós somos humanos e percebemos que o Sr. Ramos não tem as condições para continuar. Não podemos exigir que continue até cair para o lado. Também é um pouco subjectivo, porque pode aparecer alguém com uma lista que queira ajudar o clube, mas penso que acima de tudo, e eu sei que vai custar a muita gente, o Infesta tem de viver uma realidade diferente.

Se o Infesta conseguir a manutenção na 2ª Divisão, não poderá estar em risco a próxima temporada?

Eu faço votos que não, gostava que não estivesse, porque sei que é difícil, reconheço que é quase impossível, mas, como mamedense, o meu prazer e o meu orgulho, é que ele continuasse. Se a direcção que for empossada entender que não há condições para competir, temos que acatar essa decisão. Mas é evidente que vejo tudo isto com alguma mágoa e alguma tristeza. E para nós, que andamos no terreno, faça chuva, faça frio, faça sol, é evidente que nos custa que isso possa vir a acontecer.

Esclarecendo algumas pessoas que possam estar na duvida de formar uma lista para se candidatarem à presidência do Infesta, com o que é que esse possível presidente pode contar dos acuais elementos da direcção?

Quem vier a encabeçar a nova direcção do Infesta, na minha opinião, deve renovar a maior parte dos elementos, porque não se pode trabalhar à custa de três ou quatro elementos, numa direcção de catorze, porque é uma sobrecarga enorme, quer em trabalho, quer em termos familiares para quem vem cá todos os dias. Eu sei que é difícil arranjar elementos, porque as pessoas gostam de estar em casa junto da família, depois de um dia de trabalho. Eu entendo que a maior parte das pessoas que estão na actualidade na direcção do clube, já deram o que tinham a dar noutros tempos e pelo cansaço, pelo trabalho que já tiveram, neste momento seria o ideal se afastarem do clube juntamente com o Sr. Ramos.

E qual é na sua opinião, o modelo que o director do Infesta deve ter?

Eu, enquanto director do clube, sempre defendi que as pessoas, para se dedicarem a uma colectividade como o Infesta, que tem tantas equipas de futebol e andebol, com tanta movimentação, têm de ter, em primeiro lugar, gosto pelo clube. Depois, também têm de ter tempo disponível. Essas são as duas vertentes fundamentais, porque se não tiver tempo e não gostar, anda-se a enganar a ele próprio e a quem o rodeia.

No fundo, há que renovar quase na totalidade os elementos…

Sim e em princípio serei um deles. Eu ainda não falei com o Sr. Ramos sobre o assunto mas, devido á minha vida particular, se o Infesta precisar de mim, só estarei disponível para ajudar até 2014, porque faço ideias de deixar o país nesse ano. No entanto e como normalmente os mandatos no clube são de dois anos, ou seja, de 2013 até 2015, poderei ajudar na mesma o clube, mesmo não sendo director. Em princípio se sair do país, será depois de meados de 2014, portanto, se assim entenderem, eu, com muito orgulho, estarei pronto para ajudar no que for possível.

E ajudas extras, com o que é que o Infesta pode contar neste momento?

O Infesta tem ainda três patrocinadores que colaboram bastante com o clube. Um deles é o Dr. Guimarães, que com através da BRALI, contribui bastante para o clube, mas precisávamos de mais. Se me perguntarem como, temos de se calhar bater de porta em porta, pedindo ajuda para o clube, mas todos nós sabemos a fase em que o país atravessa e as dificuldades que o governo provoca ao comércio e à indústria, que cada vez é menos em São Mamede de Infesta.

Para terminar, queria que o Sr. Teixeira deixasse um apelo aos infestistas para que, na próxima sexta-feira, viessem à Assembleia-Geral…

Acho que as pessoas estão muito dissociadas do clube. O Infesta é de todos os sócios e devem todos contribuir com a sua presença nestas assembleias. Sou da opinião que os associados deveriam trazer um ou dois amigos, para ver se eventualmente algum deles fica com o gosto pelo clube. As assembleias têm de ser mais participativas e na assembleia anterior, felizmente, até esteve bastante gente, mas receio que na da próxima sexta-feira haja menos participação. O Infesta precisa de pessoas novas, jovens que tenham outro tipo de ideais, dinâmicos e que, acima de tudo, gostem do clube e tenham tempo para ajudar o Infesta, que apesar de ter mostrado sempre estabilidade durante todos estes anos, na liderança do Sr. Ramos, está na hora de mudar e os sócios têm de se convencer que essas mudanças são muito difíceis depois de tantos anos de estabilidade.

Filipe Dias

 

Deixe um comentário

Academia de Futebol
Sérgio Marques