23 de Dezembro de 2011
Manuel Bento Gonçalves Ramos, é o Presidente do FC Infesta hà 37 anos.
O site oficial do FC Infesta, inicia uma série de entrevistas a várias entidades ligadas ao clube. Foi decidido que a primeira pessoa a ser entrevistada, seria obviamente, o Presidente da Direcção, Sr. Manuel Ramos.
Nesta entrevista, o Presidente do Infesta revela que não irá continuar na frente do clube, para lá do final desta temporada e que já sabe quem poderá ser o seu sucessor. Leia a entrevista na integra:
Sr. Ramos, fale-me um pouco da sua chegada a Presidente do Infesta?
O Infesta estava na última divisão do regional e já não tinha mais para onde descer. E foi um grupo de alguns elementos, que já eram “velhas guardas” do clube, que, falando uns com os outros, acharam que deviam de ter a obrigação de fazer mais do que aquilo, e então animaram-se e fizeram um grupo para arrancar de novo e nesse primeiro ano, subiram de divisão. Eu, era um simples adepto, tinha uma empresa de fundição de metais e o José Salgueiro (vice-presidente nessa altura e actualmente presidente-adjunto), era meu inquilino e fui acompanhando a equipa durante essa temporada. Nesse final de época, fizeram um jantar de confraternização e para além de outras pessoas, convidaram-me a mim e à minha esposa para ir a esse jantar. Eu lá fui. No decorrer do jantar, o “Toninho” Barbosa da Ambar, foi ao microfone, e anunciou-me como futuro Presidente do Infesta. Eu disse que não podia ser porque não percebia nada de desporto, nunca tinha tido qualquer tipo de experiencia, nem como praticante, não havia hipótese e eles disseram que não era nada de especial que à quinta-feira era a reunião, jogava-se umas cartas e tal, e estava feito. E eu pensei que fosse assim, mas não. Isto no Infesta é muito complicado e dá muito trabalho.
Quando o Presidente chegou ao Infesta em 1974, que carências tinha o clube?
Tinha carências de tudo! Só tínhamos o Campo de jogos. Não tínhamos sede própria, água da companhia, pavilhão. Não tínhamos luz para treinar. O futebol é um desporto de inverno, pelas 17h00 começa a escurecer e durante parte da época, o Infesta não treinava porque não tinha luz no campo de jogos. Tinha uma bancada muito fraquinha, com poucos degraus e coberta numa só parte. Não tinha nenhuma viatura, hoje temos cinco, dois autocarros e três carrinhas. É uma diferença muito grande, de maneira que a primeira coisa que foi feita, foi dar agua e luz ao local, com condições de se poder treinar à noite, onde até vinham outras equipas jogar connosco pois também não tinham luz nos seus campos, depois foi o Pavilhão e mais tarde foi feita a sede!
Quais as diferenças do Infesta nos anos 70, anos 90, e o actual Infesta?
É abismal… A diferença do Infesta de 74 para o de 2011, é muito grande e isso, comprova-se pela nossa sala de troféus, que está cheiíssima. Os trofeus não foram comprados, foram conquistados. Não há duvida nenhuma que em termos de resultados, estamos muito acima daquilo que era nesses tempos. Em relação aos anos 90, não há duvida que foi um grande Infesta, mas nunca esteve nos nossos horizontes, subir a uma Liga profissional porque para isso acontecer, era preciso fazer contratos elevados e eu não sou a favor de destruir uma fortuna, ou uma fábrica ou empresa para fazer um brilharete com uma equipa de futebol. Parte do crescimento, deve-se à evolução das coisas e a outra parte, que são os troféus e os prémios que se ganharam, à honra que se criou à nossa volta pelo bem que fizemos, pela forma que nos empenhamos em respeitar, o que também é abismal.
E esperava estar quase 38 anos à frente do Infesta como Presidente?
Não! Nada disso… Eu esperava que a incapacidade me fosse dominar e eu admitia que não ia dar conta do recado. Como quando cheguei, subimos duas épocas consecutivas, fui logo considerado como o “importante”, “o Presidente é que sabe porque subimos duas épocas seguidas”… Depois foram as obras que se foram fazendo, o dinheiro não chegava e fizemos um Bingo que ainda durou uns anitos e onde ganhei muito dinheiro para o clube durante uns oito, dez anos… Mas depois tivemos que fechar, pois estava ilegal, porque não tínhamos o diploma. Foi uma perda muito grande…
Para o futuro, o que acha que vai acontecer ao Infesta?
É difícil adivinhar, mas há uma coisa que é certa, o Infesta vai ter uma mudança de muitas dificuldades. Num clube de futebol, é preciso que o Presidente esteja dedicado a tempo inteiro. Não se pode estar o dia inteiro ausente e só ao final do dia tratar de assuntos do clube, porque não se dá uma resposta a tempo, porque se inscreve um individuo mal, porque não se lê convenientemente um relatório de um árbitro, etc… O meu genro (Dr. José Guimarães Teixeira) está entrosado no futebol, aceitou um lugar de vice-presidente na Associação de Futebol do Porto, gosta muito de futebol, gosta do Infesta, mas não gosta de andar a tratar desses assuntos. Foi ele que me sugeriu ceder o direito de superfície do terreno por dez anos ao Infesta. Ele era a pessoa ideal, mas era preciso que não tivesse tanta ocupação como tem hoje em dia.
O Presidente está a falar do Dr. Guimarães, como possível sucessor na presidência do Infesta?
Se ele entrar, é um mal menor, mas o assunto, tem que ser tratado na hora. Nós temos pessoas competentes na Direcção que são capazes de dar continuidade ao projecto, mas eu tenho esperança que o meu genro aceite substituir-me, porque ele é muito meu amigo e reconhece que eu estou debilitado e que preciso de ser substituído, para me tirar estas preocupações.
Falando um pouco da actual equipa sénior do Infesta, que neste momento é líder isolado da série B da 3ª Divisão e tem boas possibilidades de garantir o principal objectivo que é a manutenção. Se eventualmente ocorrer uma possível luta pela subida de divisão, acha que esta equipa tem capacidades para regressar à 2ª Divisão B?
Acho que sim, fizemos no domingo, o primeiro jogo da segunda volta (vitória por 0-3 no SC Mêda) e aproveitamos os empates dos outros dois líderes para aumentar-mos para dois pontos a diferença, depois temos o Cesarense que está a apenas um ponto. Embora a equipa tenha de vez em quando, não percebo muito bem porquê, um jogo ou outro menos conseguido, como por exemplo esta derrota em casa com o Cesarense, penso que temos equipa para discutir a subida.
Foi uma aposta ganha, a de convidar o Professor José Manuel Ribeiro para treinador principal?
É muito honroso termos gente da casa com capacidade para ser treinador. É honroso por duas razões, exemplificou-se como é que podemos ter gente em casa para a solução dos nossos problemas e mostramos que não acreditamos só nos nomes, acreditamos nos jovens. O Zé Manel sempre manifestou interesse em ficar, mas sempre à distância em relação a mim. Ele não contava ser convidado. Quando o convidei para ser adjunto do Augusto Mata, a Direcção foi toda contra mim e eu arrisquei sozinho. O Zé Manel ficou feliz e agora como treinador principal, mais feliz ficou. Penso que foi uma aposta ganha.
Ter durante 29 anos o mesmo treinador ao leme da equipa, é algo impressionante. Como é que foi possível, a ligação no Infesta com Augusto Mata, durar esse tempo todo?
Ele já pertencia ao Infesta quando eu cá cheguei. Ele era jogador da equipa de futebol. Ainda hoje, quando me encontro com ele, sei que ele gosta de estar a conversar comigo um bocadito… Quando em Julho se fez a homenagem ao Sérgio no Estádio do Padroense, eu ia tirar uma foto com o Sérgio e o Mata disse “Sr. Ramos, eu tenho um lugar ai, não tenho?” E eu disse que sim e reparei que ele tinha aquelas lagrimas nos olhos… O Mata nunca mais esquece o Infesta. Foram 29 anos, temos um respeito muito grande um pelo outro e eu digo a toda a gente que devem respeitar o Augusto Mata com toda a força, que ao longo de 29 anos, dispôs de tudo em prol do Infesta. Ele nunca contratava alguém, que tivesse benefícios para ele… É um caso impar.
E o Andebol? Segue com atenção esta modalidade do Infesta?
Confesso que estou muito pouco entrosado no andebol. Gostava de acompanhar mais as equipas mas muitas vezes, os jogos são à mesma hora dos do futebol. Temos a felicidade de ter três elementos que nos inspiram muita confiança devido às provas que nos dão de continuidade, de ter tudo certinho, de não haver problemas. O Ricardo Meireles, o João Paulo e o José Fonseca, são três elementos excelentes. Entendem-se bem, gente nova, conseguem no fundo, dar-nos tranquilidade. Sei que às vezes quando me convidam para ir a um jogo mais especial, eles ficam contentes com a minha presença. São bons rapazes. Mas também tenho de enaltecer o treinador, o Paulo Guimarães que é uma excelente pessoa, muito moderado, humilde, muito educado. É uma pessoa que não fica na cadeira a mandar fazer. Ele faz se for preciso. É bom termos uma secção assim.
Com quase 79 anos de idade, as forças já não são as mesmas de à 37 anos atrás. O Infesta pode contar com o Sr. Ramos até quando?
Até ao final da época. Admito que será o termo obrigatório. Nem que eu tivesse vontade de continuar, não teria condições. A doença da minha esposa está a cansar-me bastante. Não conto concluir o biénio por questões de saúde, não é conveniente continuar. Uma pessoa se tiver de morrer, é a qualquer dia e a qualquer hora e depois seria o vice-presidente a assumir e depois iam a concelho, etc… Eu tenho três ou quatro elementos na direcção, que são muito pouco úteis, mas que pela relação que temos com essas pessoas em antiguidade, exige que eu tenha de as respeitar. E essa é também uma das razões.
PERGUNTAS E RESPOSTAS RÁPIDAS:
Jogadores que mais o marcaram?
Há vários, porque em qualidade de atletas, definem-se bem. Temos o Catalão, o Sérgio, o Mário Jorge (guarda-redes), o Carlitos… Isto nos últimos anos. Temos também o Manuel António e o Guimarães, o meu genro, que foi um grande defesa central.
Jogos que mais o marcaram?
No princípio da minha carreira como dirigente, foi o primeiro em que defronta-mos o Progresso, equipa que já não vencíamos há 14 anos e que ganhamos 2-0. Foi com alegria e ansiedade do que iria acontecer, que no final nos encheu de contentamento. A nível de história, o que mais me marcou pela positiva, foi o Infesta-Benfica para a Taça que nos enriqueceu para sempre a história do clube.
Temporada que mais o marcou?
Foi a de 2010/2011. Esta temporada foi sem dúvida, uma que podemos conservar para sempre na nossa memória, pelos três títulos conquistados e as consequentes promoções ao escalão seguinte.
Treinador que mais o marcou?
Só tive quatro, mas posso por de parte o Esteves (1982/83) que só esteve um bocadinho connosco. Primeiro, aproveitei o Mata, depois o Manuel António e agora o Zé Manel. Três treinadores, três homens da casa. Cada qual marcou à sua maneira.
PERGUNTAS DO FACEBOOK:
José Neves: Como se sente na realização constante de sua obra em prol das gentes de S. Mamede e muito em particular do FC Infesta?
Sinto-me cansado, esgotado mas, satisfeito pelo que fiz durante 38 anos por este clube. A responsabilidade de hoje, não é a mesma de antigamente. O clube noutros tempos, era regional e nem sempre na primeira linha. Mas foi graças a esses primeiros homens que dirigiram o Infesta, que ele nasceu e se desenvolveu. Actualmente, o Infesta tem sido um clube com crédito no País, com o máximo possível de condições, que não são totalmente as ideais, mas ultimamente, melhoramos as nossas condições de trabalho, com a cedência de um terreno meu, na quinta onde vivo, cedendo voluntariamente o direito de superfície para o clube ter onde jogar, até 2019, enquanto a Câmara de Matosinhos, não constrói o Complexo Desportivo prometido. Dai que estou satisfeito por ter contribuído fisicamente, financeiramente e honradamente. Tudo o que faço, é a pensar no clube, mas também em mim e na minha família e não devo entrar em aventuras que me tragam prejuízo, para depois ser lembrado como um individuo que estragou tudo aquilo que fez. Pretendo dentro de pouco tempo, deixar o clube livre de dívidas e problemas como sempre fiz até agora. Somos muito respeitados em todo o lado. Vejo o Infesta hoje, como uma obra muito importante para S. Mamede, em particular para a juventude de S. Mamede. Os miúdos no futuro, decerto não esquecerão os seus primeiros anos de andebolistas ou futebolistas passados no Infesta e tentamos dar o máximo de condições para eles e também agradar aos pais e avós deles.
Luis Ferreira: Porque não organizam uma equipa de veteranos?
Não me parece difícil. Criar uma equipa de veteranos, terá de ser desenvolvido o assunto por veteranos. O clube poderá dar o apoio necessário, digamos de instalações para eles treinarem e jogarem, por isso, desde que haja boa vontade, acho ser possível criar essa equipa.
Domingos Quelhas: Para quando está previsto o arranque do Complexo Desportivo?
Ainda não há data. Não sei como é que a Câmara irá resolver o problema, porque em dez anos, já se passaram quase três e não estou a ver isso a arrancar tão cedo. Depois de termos feito o acordo em 2009, e visto o Campo Moreira Marques não ter as condições necessárias para a realização de jogos oficiais, nós avançamos com a obra na Arroteia para podermos garantir o máximo de jogos em casa do campeonato. Ainda hoje continuamos a jogar aqui. No Pavilhão, por exemplo, temos outro problema que a Câmara nos colocou. Ficou acordado nesse acordo assinado, que assumiriam as despesas com o Pavilhão da Escola e, desde há dois anos para cá, que não nos pagam. É muito complicado lidar com estas situações.
Quer deixar uma mensagem de Boas Festas a todos os infestistas?
Queria felicitar todos, os sócios e adeptos do Infesta, pela forma simpática como estão a amparar o nosso clube e desejar-lhes um Bom Natal e um Bom Ano de 2012.
Filipe Dias