No inicio do mês de Novembro de 2001, calhou em sorte ao Infesta receber para a Taça de Portugal, o gigante Sport Lisboa e Benfica.

Sabendo-se que o Moreira Marques não tinha as condições básicas para a realização de um jogo de tal envergadura, tanto a nível de bancadas como de espaço destinado à imprensa e de que haveria direito a transmissão televisiva, foi necessário arranjar alternativas. De entre as várias hipóteses no concelho de Matosinhos, Estádios do Leixões, Leça ou Padroense, a escolha recaiu para o Estádio Dr. Vieira de Carvalho na Maia, devido a várias situações, primeiro porque a iluminação do Estádio do Mar era fraca na altura para o encontro se disputar à noite, o Estádio do Leça ficava muito mais distante que o da Maia e o do Padroense, não tinha o mesmo numero de lugares que o da Maia oferecia.

O encontro disputou-se a 17 de Novembro de 2001 às 19h00. Referente à quarta eliminatória da Taça de Portugal 2001/2002, o Infesta que já tinha eliminado Famalicão e Mangualde fora de portas, recebia pela primeira vez um gigante do futebol português em jogos oficiais.

Fica em seguida o resumo do jogo publicado no jornal Matosinhos Hoje, pelo Sr. Joaquim Sousa.

INFESTA
Bruno; Marcelo, Nuno, Tavares (Ricardo Rocha, 83’) e Lowden; Torres, Kléber (Nélson, 69’) e Carlitos (Tozé, 79’); Sérgio, Danilson e Pedro Nuno.
Treinador: Augusto Mata

BENFICA
Enke; Cabral, Argel, João Manuel Pinto e Pesaresi; Fernando Meira, Andersson (Andrade, 84’), Rui Baião; Drulovic (Mawete Júnior, 84’), Miguel (Porfírio, 64’) e Mantorras.
Treinador: Toni

“As expectativas não saíram furadas e nem a noite gelada fez arrefecer os ânimos. A enchente prevista não se verificou, mas mesmo assim houve uma moldura humana assinalável que contribuiu para uma festa bem colorida entre o vermelho do Benfica que se fez notar mais e o azul e branco do Infesta que se fez ouvir mais. O apito inicial tardava e já ninguém disfarçava a ansiedade pelo aproximar do início do encontro. Esse foi recebido com gritos audíveis em todo o Estádio, em que se repetia vezes sem conta, “Infesta… Infesta… e Infesta…”. Levados ou não pelo calor humano que vibrava entusiasticamente nas bancadas, os jogadores do Infesta entraram da melhor maneira no jogo e num centro da esquerda de Pedro Nuno, Enke quase colocava a bola no fundo da sua baliza, valendo a atenção de Pesaresi. A pujante entrada do Infesta foi a solução possível face à previsível fadiga que a equipa iria denotar no segundo tempo, nada habituada a ombrear com formações de um nível competitivo bem superior ao seu. Refeito daquele susto prematuro, o Benfica pega no jogo, e logo aos cinco minutos Mantorras troca as voltas a Nuno, atirando de pronto ao poste. Daí em diante assiste-se a um domínio dos encarnados, ao qual o Infesta tentava responder com contra-ataques bem conduzidos, quer pela direita por Sérgio, ora na esquerda por Danilson. Num desses lances, os 33 anos de Sérgio foram suficientes para levar de vencido Pesaresi, solicitando na área Pedro Nuno, que falha o remate. O aviso estava dado a Toni que não podia descuidar o seu sector mais recuado. O Benfica vivia quase exclusivamente do talento e velocidade de Mantorras que tinha em Nuno o seu marcador directo. Foi um confronto leal, até porque o jovem defesa central soube evitar um recurso excessivo às faltas sobre o angolano. Mostrou elevados níveis de concentração e um apreciável sentido de posicionamento, o que lhe valeu alguns cortes providenciais. 

Lá na frente esteve também perto de fazer estragos. Na sequência de um livre batido por Sérgio, eleva-se melhor que os centrais adversários e atira com estrondo à barra. Um lance que podia ter dado outro alento aos homens de São Mamede de Infesta e complicado as contas a Toni. Pouco depois vai ser Fernando Meira a estar bem perto do golo, só negado por um fantástico golpe de rins de Bruno, naquela que foi a defesa da noite. Depois de dez minutos electrizantes com o perigo a rondar as duas balizas seguiu-se uma aparente desaceleração do Benfica. O Infesta nada preocupado com isso, tentava agora guardar o nulo até ao intervalo. O sonho de uma “gracinha” na Taça de Portugal esfumou-se em apenas dois minutos e já com o intervalo à vista. Mantorras puxou os galões de estrela da companhia e partiu essencialmente dele a vontade em resolver o jogo depressa e sem sobressaltos. Mesmo não marcando, cabem-lhe a si inteiramente os méritos nos dois golos obtidos. Aos 38 minutos vai até à linha, de onde tira um centro remate que Bruno não intercepta, tabelando a bola em Marcelo para o fundo das redes. Um golo inglório depois de uma abnegada resistência que não merecia ser ruída por um lance tão bizarro como este. No minuto seguinte, o astro angolano, endiabrado como sempre é derrubado por Bruno, depois de o contornar. Penalty indiscutível que Drulovic não enjeitou. A história do jogo ficou definitivamente marcada a partir deste momento, já que até aqui o Infesta não deslustrou, antes pelo contrário, foi criando dificuldades aos encarnados, conseguindo até em dados momentos dar um “cheirinho” do seu futebol, sempre organizado e bem desenhado. O Benfica, com outra rodagem competitiva foi inevitavelmente superior e desfrutou das melhores oportunidades durante o primeiro tempo.

Da segunda metade pouco há a dizer. Ao Infesta faltou disponibilidade física para reagir ao resultado adverso, ao passo que o Benfica limitou-se a gerir a vantagem. Saltam à vista um remate de Rui Baião à entrada da área que sai rente ao poste, com Bruno completamente batido. Do outro lado o único apontamento foi dado por um golpe de cabeça de Pedro Nuno à figura de Enke, depois da bola sobrevoar toda a área encarnada. De resto jogou-se a um ritmo francamente lento em todo o segundo tempo. Os jogadores do Infesta estavam na sua maioria exaustos pelo muito que correram, mas nem por isso deixaram de lutar em salvaguarda da imagem do clube, evitando com grande altruísmo o avolumar do resultado. Praticamente o conseguiram, não fosse uma arrancada de Cabral pela direita, que já dentro da área esgueira-se a Danilson, encontrando Porfírio solto para o 0-3 final.

Para a história deve ficar a honrosa participação do Infesta na Taça de Portugal. Caiu às mãos de um gigante como o Benfica, e em campo neutro, mas acima de tudo prestigiou o futebol e mais particularmente a 2ª Divisão B, da qual faz parte.

O árbitro esteve bem. Soube conduzir o jogo, evitando ao máximo a amostragem de cartões. Condescendeu em alguns casos. Teve um critério bem definido, igual para ambas partes e segurou sempre a partida.

AUGUSTO MATA – Técnico do Infesta
“Se o jogo tivesse 75 minutos…”
“Conseguimos equilibrar o jogo e no início até empurramos o Benfica para trás. Se o jogo tivesse 75 minutos seria diferente. Certos jogadores começaram a dar o berro. Para além disso o campo era muito grande o facilitou a vida ao Benfica.”

Os jogadores do Infesta, um a um:
Bruno – Efectuou a defesa da noite na cabeçada de Fernando Meira que levava o selo do golo. Quanto ao resto, revelou segurança entre os postes e agilidade em situações de maior aperto. Faltou-lhe no entanto eficiência no lance do primeiro golo do Benfica já que a bola atravessa toda a sua área de jurisdição.
Marcelo – A raça que põe em campo é sem dúvidas o seu argumento mais forte. Lutou até aos limites e foi dos mais regulares ao longo dos 90 minutos. Infeliz no autogolo.
Tavares – Cuidado com a classe. De regresso ao eixo da defesa revelou grande sobriedade nas suas acções, mas houve lances em que abusou da sorte e facilitou demais.
Lowden – Não comprometeu, mas esteve demasiado fora do jogo. Não foi tão audaz como Marcelo, preferindo jogar pelo seguro.
Torres – Foi incansável e acabou em evidente sacríficio. Correu muito, mas tanto ele como Kléber não tiveram andamento para Meira e Andersson. Exibição esforçada.
Kléber – Este brasileiro não brinca em serviço. Joga duro e feio quando necessário. Varreu alguns lances de perigo, mas perdeu também ele a batalha do meio campo.
Carlitos – Tentou dinamizar o jogo atacante da equipa, mas as suas acções raramente tiveram sequência. Foi infeliz no passe. Acabou rendido por Tozé, completamente estourado.
Sérgio – Na primeira parte criou problemas a Pesaresi. Esteve no lance mais peri-goso da equipa ao colocar mili-metricamente o esférico na cabeça de Nuno que atirou com estrondo à barra.
Danilson – Bons pés, irrequito mas inconsequente. Entrou cheio de gás e prometia um duelo aceso com Cabral. Com o decorrer do jogo foi-se perdendo em acções individuais.
Pedro Nuno – Nota positiva para a forma com se bateu com Argel e João Manuel Pinto. Prendeu-os, segurou bem a bola e revelou grande mobilidade. Esteve perto do golo já na segunda parte, cabeçeando forte para uma defesa eficaz de Enke.
Nélson – Procura ainda ganhar ritmo compe-titivo depois de uma prolongada ausência. Em contrapartida deu frescura ao meio-campo que vinha a amolecer significativamente.
Tozé – Nada a dizer
Ricardo Rocha – Nada a dizer

A figura – NUNO
Apanhou Mantorras pela frente e esperava-se uma noite complicada para Nuno. O angolano é intratável e a sua velocidade quase imparável. Foi levado em alguns lances, mas nem por isso se deixou enervar. Mostrou tranquilidade e uma vasta gama de recursos. Exibição acima da média que poderá despertar a cobiça de emblemas primodivisionários.

CURIOSIDADES:

PRESIDENTE SATISFEITO
“Foi uma festa bonita, prestigiante para o nosso clube. Merecíamos um golo de honra pois os nossos jogadores foram briosos e dignificaram a instituição.” A receita, segundo Manuel Ramos, é seguramente, “a maior de sempre” para o Infesta.

O ABRAÇO DE CARLITOS
Foi um dos momentos altos da noite. Aos 78 minutos, o capitão Carlitos era substituído por Tozé. E para espanto de todos, a primeira reação que teve foi dirigir-se a Toni e dar-lhe um abraço sentido, que mereceu uma ovação ruidosa de todo o público presente no Estádio. Momento bonito e simbólico que irá ficar na retina de Carlitos.

VIP’S NÃO FALTARAM À CHAMADA
Foram muitas as caras conhecidas que marcaram presença no Municipal da Maia. A começar pelo autarca local, Vieira de Carvalho acompanhado pela sua família. A seu lado esteve Narciso Miranda e igualmente Montalvão Machado, rival nestas autárquicas. O futebol contorna assim uma vez mais todas as barreiras partidárias. A Câmara Municipal de Matosinhos esteve ainda representada por António Rijo e Luísa Salgueiro. No camarote VIP, não passou despercebido também Lourenço Pinto, que em tempos foi Presidente do Conselho de Arbitragem.

INFESTA – BENFICA FOI NA TVI?
Augusto Mata equivocou-se em plena conferência de Imprensa e destacou a importância da transmissão televisiva pela TVI. De imediato se ouviu um bruá e prontamente o técnico rectificou o lapso. A SIC é que não terá gostado muito do engano.

O “BRASILEIRO” DANILSON
Caros colegas Luís Marçal (SIC) e Manuel Queiroz (subdirector do RECORD) fiquem sabendo que o Danilson é um palanquinha, tal como Mantorras. No directo da SIC, primeiro foi Marçal a realçar a técnica do «brasileiro» e de seguida Queiroz reforçou o lapso, destacando o trato de bola tipicamente «sul-americano» de Danilson. Como diria o diário da Travessa da Queimada: Tchak!, Tchak!…

AUGUSTO MATA E TONI EM DIALOGO CURIOSO
No final do jogo, Toni congratulou Augusto Mata e em tom elogioso brindou-o: “Afinal, não tens aqui nenhum caixote do lixo” ao qual o técnico mamedense retribuíu: “Gostava era de ter o teu.”“Foi uma festa bonita, prestigiante para o nosso clube.

Joaquim Sousa

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