Jorginho chegou a meio da temporada e conseguiu manter o Infesta na Divisão de Honra.
Filipe Dias (FD): Quando em Dezembro deste a entrevista, dizias que a equipa estava a dar sinais que te garantiam que o Infesta não ia descer e isso acabou por acontecer. Como é que vês estes meses de trabalho que fizeram atingir o objectivo?
Jorginho (J): Foi um processo crescente, de novas ideias, outros processos de treinos, o que não quer dizer que as que estavam em vigor, estavam erradas mas cada treinador tem a sua ideia e a própria consolidação dessas ideias, deu uma evolução na equipa que nos fez terminar o campeonato dentro do objectivo. Nós terminamos bem, apesar da derrota em casa com o Dragões Sandinenses, que foi a nossa única derrota nas últimas sete jornadas, a equipa mostrou consistência e nós íamos para os jogos sabendo com o que é que contávamos. Inicialmente era muito difícil pois após uma semana de treinos, eu não sabia com o que ia contar no domingo mas com toda essa consistência de treinos, semana após semana, a equipa foi evoluindo e culminou com o objectivo alcançado.
FD: O que mudou na tua metodologia de treino, em comparação com a do Formoso que saiu a meio da temporada, para a equipa conseguir a manutenção?
J: Eu tenho o Formoso e o André como dois bons amigos, que não tiveram sorte, mas penso que foi o ser um novo treinador que os fez dar o tal “click” que às vezes é necessário para espicaçar uma equipa.
FD: Já foste convidado para continuar na próxima temporada como treinador principal do Infesta?
J: Sim, estou à espera de saber o orçamento para a equipa sénior e a reunir os requisitos necessários com as pessoas competentes para dar uma resposta final.
FD: Ao contrário dos últimos anos, o Infesta ficou privado nesta recta final do campeonato do seu capitão, até que ponto foi fácil para ti, trabalhar com estes atletas sem a presença do Vitinha em campo, devido à lesão?
J: Foi fácil porque desde já, o Vitinha deu-me uma grande ajuda e apoio quando eu cheguei aqui e é bom salientar isso pois era importante para mim, ele apoiar-me pela pessoa que ele é e pelo respeito que todos têm por ele, dentro e fora das quatro linhas. Senti sempre que ele estava presente pois mesmo fora, estava dentro, pois vinha ver os jogos quando podia e o grupo também sentiu que ele estava empenhado e que estava a “vestir a camisola por fora”. Não é fácil também para ele pois nesta fase da carreira dele, com colegas tão jovens, ele conseguir estar tão dentro do grupo, apesar de não poder estar em campo e por tudo isso, eu só tenho a agradecer todo esse empenho.
FD: E o André, como é que ele desempenhou a tarefa de capitanear o Infesta?
J: É um líder nato. Tem um pouco o “coração à beira da boca”, está num processo de aprendizagem, é capitão aos 22 anos, mas acima de tudo é um líder nato, já tinha sido capitão nas camadas jovens, tem uma competência brutal, com muita capacidade e para se ser líder, ou se é, ou não se é, ou se tem, ou não se tem e acho que ele tem essa capacidade de liderar uma equipa. Vai faze-lo crescer como pessoa e ajuda-lo a ter mais ponderação nas reacções que por vezes toma a quente, mas tem todo o perfil para liderar e capitanear as equipas futuras do Infesta pois tem um sentido de amor à camisola que hoje em dia é raro de se ver.
FD: Qual achas que foi o “ponto-chave” no campeonato?
J: Um ponto chave que eu acreditava que podia ser, foi no jogo em casa com o Dragões Sandinenses, que eu sabia que se ganhasse-mos, não descíamos. O jogo correu mal no resultado, mas não na exibição pois foi uma partida onde nós criamos seis, sete oportunidades de golo. Por uma ou outra razão, não concretizamos e acabamos por perder a partida, mas a exibição que a equipa fez, fez-me acreditar que nós não íamos descer, pois acabou por ser uma derrota saudável pois vimos que foi um resultado injusto por tudo aquilo que tínhamos deixado em campo. E isso viu-se nos jogos seguintes, pois acabamos por não perder mais nenhuma partida o que não é fácil para uma equipa tão jovem, a jogar com tanta pressão desde o início da época. Só nos fez crescer, tanto a eles como jogadores e a mim como treinador.
FD: Como o jogo em Alpendorada, onde o Infesta empatou mesmo a acabar a partida?
J: Foi esse ponto que nos permitiu encarar a partida seguinte em casa em que se ganhássemos, as coisas ficavam matematicamente resolvidas e ainda bem que tocas-te nesse ponto pois é um ponto importante. Foi mais um jogo em que criamos imensas oportunidades e não merecíamos que eles chegassem ao golo aos 80 e tal minutos, e a reacção da nossa equipa foi fenomenal, acreditando sempre que era possível chegar ao golo e que acabou por acontecer, mesmo a acabar a partida.
FD: Saindo do futebol, o Infesta vai a eleições este mês e gostaria que comentasses como é que vês este impasse directivo no clube?
J: Isso é uma coisa que me causa alguma confusão, pois o Infesta é um clube que cumpre sempre com as suas obrigações, não tem dívidas à Segurança Social, ao fisco, a jogadores, treinadores, está bem localizado, com campo próprio, apesar de estar impedido de jogar lá, e acaba por ser um pouco estranho. Acho que as pessoas têm um pouco de receio, sabendo da história do clube ser sempre cumpridor, não conseguirem manter o bom nome na praça.
FD: Este ano para além dos seniores, treinas-te a equipa de iniciados B do Infesta, com mais um excelente campeonato realizado…
J: Eu emociono-me sempre que falo nesses miúdos, é algo que está intrínseco em mim e que tenho dificuldades em explicar. Eu recordo-me que na temporada passada quando os comecei a treinar nos infantis, era uma equipa de apenas sete atletas, algo impensável para o futebol de onze, mas com mais alguns atletas que entretanto foram chegando e alguns do futebol de sete, lá conseguimos subir de divisão. Criou-se uma estrutura muito forte com os pais e os miúdos, este ano consolidamos processos e acabamos por fazer um excelente campeonato.
FD: Queres deixar uma mensagem?
J: Gostava que houve-se mais vezes aquele ambiente que foi criado no jogo com o Nogueirense, a formação esteve presente, os pais, sócios que já não vinham ver os jogos há algum tempo, bastante gente. Acho que foi um ambiente saudável que não deve ser difícil de criar e sei que foi fundamental para o sucesso nessa partida que culminou com a manutenção do Infesta. Por fim, gostava de deixar uma palavra aos meus jogadores, são jovens a jogar numa pressão enorme que depois de dez meses de grandes dificuldades, deram uma resposta cabal nesse jogo após o intervalo onde perdíamos por 0-1. Saberem que tinham de obrigatoriamente dar a volta ao resultado e terem capacidade para o conseguir, não é para qualquer equipa e foi a amizade que prevaleceu ali e o espirito solidário que eu apregoo-o, que os fez dar a volta ao resultado desfavorável.
Filipe Dias